марта 22, 2013 21:00
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Eu ia escrever sobre o amor. Tenho pensando muito nesse assunto. Enquanto durmo ou como, no caminho de casa para o trabalho, na direção inversa, no trajeto do ônibus com a cabeça encostada no vidro, a cada hora, nos momentos mais esquisitos, o amor se instala. Mas aconteceu de vozes alteradas burlarem a vidraça e entrarem nos meus ouvidos, mudando o rumo da prosa. O casal do apartamento ao lado discute a possibilidade de pôr fim ao relacionamento. Ele diz que vai embora amanhã. Ela não quer. Ele também não. Ele brada, ela retruca. Portas se batem. Alguém chora alto. Sempre fico tensa com discussões amorosas. Dedos em riste apontam a incapacidade que temos de nos perceber humanos, míseros. Esta tendência rasa de enxergar o outro como um ser acabado, encerrado, estanque. Você mudou, acusa o homem. Quem mudou foi você, rebate a mulher. A mudança, acredito, é inerente a toda gente. A tudo. Acontece que se o outro tem um comportamento distinto ao que estamos acostumados, perdemos toda a nossa segurança - convicções e garantias arduamente coletadas por amostragem cotidiana. Como assim você não cabe mais na gaveta que eu fiz pra você? Onde vou colar estas etiquetas? Anda! Entra aí de novo! A imagem que me vem, ao escutar meus vizinhos, é a de um fórceps às avessas. Alguém socando alguma coisa até que ela tome a forma do seu olhar quadrado, cartesiano. Crer que conhecemos alguém é supor que o mundo é inerte. A verdade é subjetiva - e os que não concordam com isso reforçam essa idéia. A única forma de conhecermos o outro é distanciar-se de si mesmo e enxergá-lo como se não existíssemos, o que considero impossível. Outra alternativa, bem mais espinhosa, é revolucionar nossas expectativas e transcender para a empatia. Sabe, não quero tomar parte em algo que nem me diz respeito. Na verdade, gostaria de ter sido poupada desta lavação de lençóis dos vizinhos, mas penso que os dois devem ter mudado muito. Pelo menos, assim espero. imagem: boligán
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