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o menino

March 8, 2012 21:00 , by Unknown - 0no comments yet | No one following this article yet.
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cheio de fome, o menino vai.
num ritmo arrastado e lento,
vai sem ter mesmo onde ir...
quem sabe a sorte sopra ao vento?
um trocado aqui, outro ali.
mas vai logo, menino!
te arranca deste lugar bonito!
não vês que não combina contigo?


sob a aura protetora,
sob a guia condutora,
sob olhos marejados da culpa
de quem não te vê, vai menino...
vai sem futuro.
mão alguma jamais te passará calor.
um cachorro, um bêbado,
um soco no escuro.
ninguém sente a tua dor?
ninguém canta ao teu ouvido?
deixa de sonhos, menino!


melodia é teu estômago contraído...
lasca uma banda de pão velho
e ludibria o vazio ignorado pelo teu irmão cego,
teu irmão empalhado.
então, há lugar para dignidade?
será mesmo que deus existe?
há fé que baste?


ninguém ama o menino triste.
e o menino vira um traste.
de metal em punho, o menino vai.
sou tua homônima, menino.
que pode tua faca contra o frio que te corta?
que lâmina rompe tua falta de carinho?
quem cura teu corpo talhado de solidão?


é tão custoso teu itinerário.
e ninguém te vê, menino.
e ninguém te sabe.
se ninguém vê, o menino invade.
se multiplica pela cidade.


tua normalidade vocifera anônima.
restos de planos.
ratos, meninos e restos.
restos humanos.
num delírio de classe,
a madame aponta o dedo em riste:
pega ladrão! pega ladrão!
e o palco inteiro vai ao chão:


taí, menino! taí a explicação!
todos te servem à vontade.
o banquete é de miséria.
comensais da contradição.

Ilustração de Gilmar Fraga retirada do blog Tinta China.

Source: http://transitivaedireta.blogspot.com/2010/03/o-menino-cheio-de-fome-o-menino-vai.html

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