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transitiva e direta

January 12, 2009 22:00 , von Unbekannt - | Es folgt noch niemand diesem Artikel.

enguiçado

March 3, 2013 21:00, von Unbekannt - 0no comments yet



o relógio marcava 22h04 quando ernesto entrou no prédio. cumprimentou o porteiro com uma piada sobre futebol, caminhou até a caixa de correspondências, selecionou o que parecia necessário - contas, imãs de calendário e panfletos de pizzaria. entrou no elevador, apertou a chave no bolso e cumpriu o trajeto até o oitavo andar sonhando com um banho quente. 

a semana mal havia começado e ele sentia-se cansado e aborrecido. não essa canseira ordinária de quem trabalha pesadamente dez horas por dia, seis dias por semana, onze meses por ano. sentia mesmo era a alma fatigada e o corpo dolorido. era mais um peso das renúncias acumuladas na esteira veloz da rotina, essa locomotiva que deixa para trás os sonhos da gente.

aos 32 anos, ernesto não era deste tipo de gente que atravessa a vida sem dar-se conta de seus demônios. ele sabia exatamente que as escolhas, quando feitas ao revés da real vontade, acabam encrostadas na história de cada um. uma ferrugem que endurece com o tempo e se converte na massa de conveniências com que modelamos nossas máscaras cotidianas. e nisso sim ele era bom.

nas relações de trabalho, usava seu excesso de competência como auto-perdão pela constante arrogância. algumas pessoas o evitavam, mas a genialidade com ele apontava dezenas de hipóteses sobre um único fato acabava por atrair admiradores. ademais, ernesto tinha lá seu charme divertido. sabia fazer os outros rirem, sobretudo as mulheres - e talvez essa fosse a característica da qual ele mais se orgulhava.

naquela noite, no entanto, enquanto subia o elevador, ernesto seria incapaz de esboçar um sorriso ou levar adiante um pensamento limpo. quando o elevador estacionou no oitavo andar, ele suspirou aliviado por finalmente chegar em casa e ficou confuso quando as portas de aço maciço se mantiveram fechadas e a luz apagou de repente. 

o ar foi ficando raro e a respiração, difícil. quando o calor apertou, tratou de abrir a camisa e tirar os sapatos. de dentro do elevador, gritou repetidas vezes por um socorro sem resposta. usou toda a energia das mãos e dos braços para tentar descolar uma porta da outra, um esforço vão. sentia o corpo suado e as paredes, úmidas. 

certamente o espelho do elevador também estava embaçado, o que não fazia a menor diferença naquele metro cúbico de escuridão. pensar nisso, no entanto, acendeu em ernesto a vontade de recordar o próprio rosto. apertou uma tecla qualquer do celular para obter um feixe de luz, estacionou diante da própria cara refletida e buscou em si algum olhar que pudesse reconhecer.

não pôde. ali, trancafiado, não fazia a menor diferença quem ernesto era. as paredes pesadas ignoravam completamente o seu cargo de editor no jornal e sua fama de conquistador. seu telefone de última geração sequer dava sinal. estava absolutamente só, sem a menor possibilidade de cobrar uma solução imediata de alguém.

sentado no chão do elevador, o suor escorrendo pelo corpo, ernesto sentia uma amargura avançando da garganta para o céu da boca. estava ali há duas horas. o escuro havia reacendido velhas lembranças e lembrar de si mesmo fez ernesto ter vontade de chorar. mas ele tinha o peito tão enguiçado que tudo o que conseguiu foi soluçar um pranto seco, sem lágrimas.



rotação

March 2, 2013 21:00, von Unbekannt - 0no comments yet



muitíssimo alegre
e tão triste quanto
mantenho um poço
de duas metades

são bem parecidas
mas nunca iguais
numa mora o grito
noutra vive o eco

e ambas refletem
uma espiral giratória
que roda difusa
na força contrária

fazendo pião 
e quebrando espelhos
à beira de mim



A ilustração é da Mariana Belém



E precisamos todos desobedecer

March 1, 2013 21:00, von Unbekannt - 0no comments yet



Recebo com horror e indignação a pesquisa divulgada recentemente pela Anvisa que mostra o aumento em 75% do consumo de Ritalina entre crianças e adolescentes na faixa dos 6 aos 16 anos de 2009 a 2011. Conhecida como a "droga da obediência", o medicamento é usado para combater o polêmico Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Estamos drogando as crianças em nome de uma sociedade doente. 

Há tempos o clamor geral à obediência pulula como pulga atrás da minha orelha esquerda. Obedecer é um mandamento básico da educação. Ainda falamos gugu-dadá e mal caminhamos sob os dois pés quando começam a nos cobrar comportamentos obedientes. Qualquer coisa diferente disso soa como má educação, um verdadeiro atentado à vontade alheia. Para quem se “comporta”, recompensas. Para os desobedientes, castigos.

Mas o que é “comportar-se bem” senão respeitar um conjunto de regras que, muitas vezes, ninguém sabe exatamente a razão pela qual existem? Quem determina o que e quem deve ser obedecido? E nem estou me rebelando às normas de convivência social. Compreendo que a existência de 7 bilhões de seres humanos dependa de um certo nível de organização, direitos e deveres.

Estou falando da obediência como a via suprema da educação. A obediência como um valor exacerbado que suprime o desenvolvimento, atrofia o intelecto e acostuma o coração da gente a bater na freqüência do medo. Bom, o fato é que essa pulga que planta bananeira atrás da minha orelha também planta uma pergunta: se obedecer fosse realmente uma virtude, será que a humanidade existiria?

Até onde posso alcançar, vejo que todas as grandes as conquistas, criações e descobertas da humanidade foram feitas por gente desobediente. Por gente que não se limitou a demarcações geográficas, que amou desmedidamente e foi além do “possível”. Gente hiperativa que soube dizer não!

Então, fica difícil entender porque valorizamos tanto a obediência, porque nos submetemos ao certo e ao errado e gastamos uma energia gigantesca para satisfazer o senso-comum. Gente obediente não questiona, não transforma, não reluz e não pisa na grama. Chatíssimo, né? Então, que tal semearmos a desobediência como uma prática para expandir ideias em lugar de reduzi-las ao equacionado “certo” e “errado”? 



fatias

February 27, 2013 21:00, von Unbekannt - 0no comments yet

as dúvidas,
quando postas à mesa,
são sempre mais sinceras
do que as certezas.



Thu, 28 Feb 2013 02:10:00 +0000

February 27, 2013 21:00, von Unbekannt - 0no comments yet

as dúvidas,
quando postas à mesa,
são sempre mais sinceras
do que as certezas.