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transitiva e direta

January 12, 2009 22:00 , by Unknown - | No one following this article yet.

em pleno verão

October 28, 2011 22:00, by Unknown - 0no comments yet

quando finalmente voltei ao apartamento de sofia, exatamente um ano e dois meses após nos separarmos, percebi que algo havia mudado. e mudado muito. quando abriu a porta, dentro de um vestido verde, o colo delicadamente exposto, sofia estava mais linda do que nunca.

entrei, ela me abraçou demorado, ofereceu chá de hortelã gelado e foi prepará-lo enquanto eu vasculhava a biblioteca da sala atrás de livros remanescentes. sofia trouxe o chá e um pratinho com pães de mel.

fazia um calor de virar manchete nos jornais. perguntei se ela havia cortado os cabelos. a resposta foi um "não" meio enfadado. me senti sem graça pela falta de tato com a situação. é bem estranho não saber o que dizer a uma pessoa com quem se viveu junto por tanto tempo. mas o fato é que o tempo passa e naquela tarde abafada eu realmente me sentia longe demais de sofia.

delicada como sempre, ela percebeu meu constrangimento e quis ser amável. puxou assunto e de repente nos vi conversando amenamente sobre previsões do tempo, mudanças climáticas e aquecimento global, como dois velhos desconhecidos, entre aquelas paredes que haviam sido nossas um dia.

fui tomado por uma sensação tão incógnita que quis inventar uma desculpa e sair dali o mais rápido possível. mas me contive. afinal, tínhamos assuntos importantes (como a assinatura do divórcio ou quem fica com a coleção de almanaques dos anos 70) para resolver.

- teu advogado me ligou - eu disse.
- sinceramente eduardo, me desculpe. não me leve a mal. não há nada de pessoal nesta impessoalidade toda. contratei um advogado apenas porque que eu realmente não sei lidar com o universo burocrático, você sabe. tanta papelada, tanta palavra de mau gosto. resolvi terceirizar o serviço, só isso. 
- tudo bem. ele é até tolerável.
- bom, vejo que vocês estão se dando bem. espero que continuem assim - ela disse, sorrindo.

sorrindo de verdade. depois de tudo que aconteceu, finalmente, sofia parecia feliz. me apontou a caneca com chá - sobre a mesinha que compramos juntos no brique da redenção - e, então, dentro do estonteante vestido verde, sofia caminhou até o toca-discos, que dei de presente a ela no nosso terceiro aniversário de namoro. 

em meio aos chiados da agulha antiga, um calor de rachar lá fora, eu sentado na minha poltrona preferida, ela jogada do divã laranja, sem dizermos mais nenhuma palavra sequer, ouvimos elis 1970, o álbum preferido de nós dois.



Wed, 26 Oct 2011 01:59:00 +0000

October 24, 2011 22:00, by Unknown - 0no comments yet




seguro?

October 24, 2011 22:00, by Unknown - 0no comments yet



seguro morreu de velho,

mas dizem que não viveu...
.
.



cinecasarinho!

October 8, 2011 21:00, by Unknown - 0no comments yet




meu pai

September 29, 2011 21:00, by Unknown - 0no comments yet


após travar uma brava luta contra o câncer, meu pai, ronaldo barreto - a quem chamo carinhosamente de gordinho baleia =) - faleceu no dia 14 de setembro. foram meses de idas ao hospital, zilhões de exames, diagnósticos contraditórios e tratamentos pesados. ele sentia dor e a dor dele também doía na gente. ainda dói, claro, mas a morte de quem a gente ama revela, também, caminhos para aprendizados.

pessoalmente, entendo a morte como uma passagem, como sair da infância e partir para a adolescência, tornar-se adulto e assim por diante. no caso da morte, acredito que a pessoa evolua do plano material para o puramente espiritual. é a vida pedindo um espaço maior do que o corpo para manifestar-se na sua plenitude. 

acompanhei de perto os úlimos meses de vida do meu pai e posso dizer que foram (continuam sendo) os momentos mais especiais da minha própria vida. eu morei os últimos nove anos longe da minha família e nossa convivência não foi tão frequente quanto gostaríamos: eu vivendo no distrito federal e meu pai no rio grande do sul, o que tivemos nesse período foram finais de semana, feriados, visitas rápidas.

como este é um post declaradamente confessional, pontuo que desde a adolescência mantive uma relação difícil com meu pai. nunca faltou amor. nunca faltará. mas éramos um desafio um para o outro. eu pensava "a", ele pensava "z". aliás, verdade seja dita: ele era um cara complicado. cabeça dura ao extremo. trancafiado de emoções. tem gente que diz que sou bem parecida com ele, mas eu - obviamente - discordo =)

no entanto, desde maio, quando abandonei minha odisséia pela américa latina para ficar ao lado dele e da minha família, eu e meu pai nos ajustamos em muitas coisas. desfrutei muito da presença dele. aprendi demais com suas rabugices. compreendi coisas sobre o humano dele que minha cegueira de filha escondia. sei que vou levar meu pai comigo para todo o sempre e por isso não me maltrata tanto a sua ausência física.

ele ensinou muito para mim, meus irmãos e minha mãe - com quem esteve casado 39 anos! no fundo, só a gente sabe as profundezas da nossa relação familiar. os detalhes, as entrelinhas, as marcas na história de cada um, nossa coletânea de recordações - um eterno álbum de fotografias reveladas pelo coração. 

ainda está tudo muito recente: velório, enterro, pêsames, meus sentimentos, a casa vazia dele. para mim, é hora de renovar meus compromissos com a vida. refletir sobre o que, afinal de contas, eu vim fazer aqui neste mundo. definir prioridades. colocar energia nelas. diminuir meus danos. ampliar meus impactos positivos. fazer cada dia valer a pena, porque, nos final das contas, a morte também serve para lembrar que existe vida e que ela pode acabar a qualquer momento.



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