flores para as iabás
21 de Novembro de 2011, 22:00 - sem comentários aindasábado (19) tive a sorte assistir ao espetáculo "canto para as iabás", na casa de cultura mário quintana. são apenas quatro mulheres em cena e isso faz com que o resultado seja ainda mais surpreendente. o enredo é simples: duas na percussão; outra que dança lindamente e uma que recita, canta, também dança e acontece. (dizem que todas lançam feitiços).
à sombra de um delírio verde
20 de Novembro de 2011, 22:00 - sem comentários aindaacabei de assitir ao documentário "à sombra de um delírio verde", que foi divulgado nesta segunda (21) numa versão hd para a internet. o filme trata dos sucessivos massacres aos guarani kaiowá. infelizmente, o lançamento coincide com mais este revoltante ataque àquele povo.
e se escrevo assim, no calor da hora, logo após ver o filme, é porque sei que esta raiva que estou sentindo agora só existe porque sou capaz de amar. e porque expor meus sentimentos é uma maneira de fazer-me sujeita desta triste realidade. e que se algumas vezes sou sujeita é porque noutras sou objeto.
e porque não dá para a gente mudar e fazer de conta que não mudou. chega de ver e fingir que não viu. olha, que triste, mais um assassinato de índio. desliga a tevê e vai dormir. estou bem orgulhosa do cristiano navarro, que é bom amigo e um dos diretores do doc.
tornar-se consciente é um caminho de libertação. somos todos inacabados. alguns de nós, indomesticáveis. e se tudo der certo avançaremos sem acreditar nos nervosismos dos mercados financeiros, sedentos por mais lucros a qualquer custo.
a injustiça social não é uma fatalidade. em toda a américa latina o latifúndio estrutura os espaços sociais e políticos, determinando valores e hierarquizando as identidades culturais. por todos os lados, os índios foram marginalizados e reduzidos à sobrevivência.
o afã de mercantilizar todos os aspectos da vida e explorar todos os recursos naturais não é uma fatalidade.
a subordinação da vida aos interesses de meia dúzia de grandes corporações mundiais que acreditam que "o céu é o limite" não é uma fatalidade.
nem sempre foi assim. nem sempre será. tudo é parte de um processo histórico e só pode ser compreendido assim, nesse contexto. nós - humanidade - trilhamos um caminho controverso até chegarmos aqui. somos responsáveis por cada um dos nossos disparates civilizatórios.
À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.
linguagem
14 de Novembro de 2011, 22:00 - sem comentários aindaa palavra estala
na ponta da língua:
desejo.
a boca se abre,
quer libertar-se:
lampejo.
o som toca o ar,
revela o silêncio:
segredos.
ruídos se atrevem,
rompem a carne:
selvagens.
meus olhos atentos
te buscam sem erro:
no ouvido.
tua mão desafina,
confunde o caminho:
me toca.
tua língua entende,
engole a saliva:
garganta.
tua voz se levanta,
espanta meus ecos:
ruídos.
teus dedos conduzem
a nossa conversa:
avançam.
me enlaçam a cintura,
coxas e seios:
vacilam.
sou pura dúvida,
não ouso dizer-te:
receio.
contamos estrelas,
velhas histórias:
nem creio.
suspendo as roupas,
verdades são nuas:
miragem.
e roço com gosto
minha fala na tua:
linguagem.
.
.
.
sempre gabriela?
6 de Novembro de 2011, 22:00 - sem comentários aindacansei de ser "boazinha". meus amigos vivem dizendo que dou confiança a todo mundo, que não vacilo na hora de oferecer o meu ombro ou dar crédito a desconhecidos. a falta de tempo tem me feito rever prioridades e pensar que talvez meus camaradas tenham razão.
então, embora eu sempre prefira a emoção, ando com vontade me tornar uma pessoa mais "malvadinha". não quero mais faiscar minha energia por aí. até já rabisquei mentalmente uma estratégia: vou colocar um colar de alho no pescoço, sal grosso nos bolsos e me guardar de alguns tipos.
os primeiros da lista são os indivíduos-resultado. explico: sabe aquelas pessoas que são assim ou assado em decorrência de forças externas? que empenham toda sua capacidade inventiva na criação de argumentos para responsabilizar o pai, a mãe, o porteiro e o reverendo pelo que são e o que deixam de ser? pois é.
a culpa é sempre de outra pessoa e as lamúrias, infindas. "reprovei por que o professor era um desinteressado". "sempre quis ser ator, mas minha família não me apoiou e acabei administrador de empresas". "sou insegura por que meu marido me tolhe". e vice-versa-e-vide-o-verso-quem-tiver-tempo-sobrando, pois os exemplos enchem os dedos das mãos, dos pés e o saco de paciência de qualquer um.
por vezes, sobra até para saturno, vênus ou marte. a justificativa está nos astros. e tudo é desculpa para a pessoa não sair do lugar e ficar inerte na sua zona de conforto e lista de reclamações. é o que a gente chama de "síndrome de gabriela". algo como uma conveniente voz interior cantarolando "eu nasci assim, vou ser sempre assim...".
ai, francamente, ando com preguiça de gente assim, sempre gabriela. é claro que a vida seria mais bela se nosso chá já viesse com cravo e canela. vezenquando todos nós gostaríamos de abrir mão do tal livre-arbítrio e depositar as decisões confortavelmente no colo da mãe natureza.
mas se colocar no mundo como um acidente de percurso é uma atitude no mínimo regressiva. uma atraso. uma receita infalível para alcançar a infelicidade. e é disso que eu quero quilômetros de distância.